segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Procedimentos Metodológicos e Diretrizes Científicas



 1.     Procedimentos

            Para a verificação da(s) referida(s) hipótese(s) e a crítica dos equívocos teóricos das teóricas vigentes da tradição e do século XX, aplicamos os seguintes procedimentos metodológicos no contexto da Nova Filosofia da Ciência, a partir do ponto de vista da Linguística Dinâmica e Integrativa, que é um desdobramento das concepções linguísticas da Corrente da «Enérgeia»:
a)    Procedimentos Empíricos pela observação das relações de causa e efeito entre a língua em uso y a relação social;
b)    Procedimentos Analíticos, para a identificação dos efeitos e suas causas, os sistemas linguísticos que produzem os referidos efeitos;
c)    Procedimentos Epistemológicos associados à dúvida sistemática cartesiana, para a análise das teorias em avaliação e julgamento;
d)    Procedimentos de Experimentação Linguística.[1]

2.     Diretrizes Metodológicas

           
            Antes de iniciar a apresentação dos resultados da pesquisa empírica dos dados do fenômeno linguístico e das análises epistemológicas sobre as teorias da noção de Língua, é oportuno seguir a orientação de Mikhail Bakhtin, que no início do Capítulo 4 da sua obra Marxismo e Filosofia da Linguagem (1992) declarou: “No início do nosso itinerário, convêm propor, ao invés de definições, diretrizes metodológicas” (p. 69).[1]
 
            Assim, seguindo a proposta de Bakhtin, no início do nosso itinerário, vamos explicitar as diretrizes metodológicas do nosso trabalho de pesquisa.

            Seguimos as diretrizes metodológicas da obra Regras do Discurso do Método de René Descartes [2] e os princípios da Nova Filosofia da Ciência,[3] conforme explicamos:

a)     A Primeira Regra do Discurso do Método consiste em não aceitar nunca como absolutamente verdadeiro ou objetivo, aquilo que com toda evidência não se reconhece como tal pelas novas pesquisas e observações. Por este princípio, somente se aceita das teorias do passado aquilo que se apresenta ante o pesquisador da atualidade de uma forma tão clara e distinta que não admita a mais mínima duvida, embora tenha sido considerado pelas teorias herdadas do passado como “uma verdade absoluta e universal” da ciência. Assim, por exemplo, é preciso colocar em dúvida no plano da suposta “Linguística Geral”, a hipótese saussuriana e estruturalista de que A LÍNGUA E ESTÁTICA, porque isso não se verifica pelos novos dados observados e observáveis do fenômeno linguístico. Da mesma forma, coloca-se em dúvida o princípio saussuriano pelo qual o estruturalismo defendeu que O SIGNIFICANTE LINGUÍSTICO É UMA LINHA,[4] pois não se verifica: Essa concepção é a mistura de uma meia verdade no campo da Especialidade Linear e uma inverdade ou sofisma no plano da suposta “Linguística Geral” e da noção de língua. Pois o que se observa é que «uma parte» do significante é realmente uma linha, ou tem a disposição de uma linha: a cadeia fonemática. Porém, não o significante inteiro, que é complexo, multidimensional e multivariável. Deste modo, a teoria saussuriana do significante está cometendo o equívoco de tomar o «qui» pelo «quo»: O equívoco de tomar uma «parte do significante» pelo «significante inteiro».[5]  

b)     A Segunda Regra do Discurso do Método consiste em dividir cada uma das dificuldades que se encontram em tantas partes quantas sejam possíveis, e buscar a sua mais fácil solução. Naquilo que se refere aos tipos e conjuntos de sistemas que compõem a língua, os dados da pesquisa realizada pelos paradigmas e fundamentos da Nova Filosofia da Ciência e da Linguística Dinâmica e Integrativa mostram a necessidade de considerar tantos conjuntos de sistemas linguísticos quantos sejam precisos para distinguir todos os aspectos e problemas encontrados. Assim, por exemplo, é preciso fazer uma primeira distinção entre os SISTEMAS ESTÁTICOS, OS MODELARES E OS DINÂMICOS (Gráfico 1); uma segunda distinção entre os SISTEMAS SÍGNICOS (sistemas que expressam sentidos, significados e significações), os SISTEMAS PRAGMÁTICOS (sistemas responsáveis pela ação pragmática) e os SISTEMAS ENERGÉTICOS (sistemas que geram e produzem energias e forças de ação, reação e efeitos) (Gráfico 2). No conjunto dos SISTEMAS SÍGNICOS, é preciso distinguir os signos semânticos, os semióticos, os lógicos e os simbólicos; no conjunto dos SISTEMAS ENERGÉTICOS (produtores de energias e forças de ação, reação e efeitos) é preciso distinguir, pelos tipos de efeitos que produzem, os sistemas imperativos, os valorativos, os persuasivos, os sedutores, os retóricos, os lúdicos, os jurídicos, os administrativos, os políticos, os religiosos, os culturais, etc.  (Gráfico         ). Deste modo, Ferdinand de Saussure cometeu na sua obra póstuma (1916) várias omissões, esquecimentos e reducionismos sobre a noção de Língua (ou Langue), conforme o sentido dos termos nas Regras do Discurso do Método de René Descartes.

c)     A Terceira Regra do Discurso do Método propõe ordenar os conhecimentos alcançados, começando pelos mais simples e fáceis, para elevar-se pouco a pouco e como por graus e níveis até os mais complexos, estabelecendo também certa ordem naqueles elementos que pareça que não têm nenhuma ordem natural. Assim, por exemplo, em primeiro lugar, num primeiro plano da complexidade linguística, os dados mostram a necessidade de fazer a distinção entre os Sistemas Estáticos, os Modelares e os Dinâmicos (Gráfico 1). Num segundo plano de complexidade, os dados mostram a necessidade de fazer a distinção entre os Sistemas Sígnicos, os Pragmáticos e os Energéticos (Gráfico 2). Num terceiro plano de maior complexidade, no plano do conjunto dos sistemas do Plano de Superfície do «Ergon», os dados  mostram a necessidade de distinguir o conjunto integrativo dos Sistemas Estáticos, os Modelares, os Dinâmicos, os Sígnicos, os Pragmáticos, os Cinéticos, os Energéticos, os Verbais e os Não-Verbais (Gráfico 3) (MEDINA & MEDINA, 2009: 68-87)[6] . Num quarto plano de maior complexidade ainda, percebe-se a necessidade de distinguir e relacionar os sistemas do Plano de Superfície do «Ergon» com os sistemas do Plano Profundo da «Enérgeia» e da Central Cérebro-Mente-Psique linguística e com os sistemas Transverbais do Plano Coletivo da Comunidade Linguística, da Cultura, da Nação e da Civilização  (Gráficos        ).
       
d)     A Quarta Regra do Discurso do Método propõe fazer sempre enumerações tão complexas e revisões tão gerais, que se alcance certeza ou segurança de não ter omitido ou esquecido nada, de não ter cometido nenhum reducionismo teórico.[7] Assim, por exemplo, a Linguística Dinâmica e Integrativa observa que as teorias dos pragmáticos dicotômicos do século XX, ao pesquisarem e definirem o fenômeno linguístico da ASSIMETRIA,  omitiram um dado relevante e fundamental: OMITIRAM E ESQUECERAM QUE A ASSIMETRIA É O EFEITO OU RESULTADO DE UMA DIFERENCIAL DAS ENERGIAS E FORÇAS LINGUÍSTICAS ENTRE OS FALANTES E INTERLOCUTORES, no ato de fala, na conversação, no discurso e nos TURNOS DA INTERAÇÃO. Não há nenhum ato de fala na interação, não há nenhum discurso, texto ou obra, que não gere de parte a parte um conjunto de energias e forças, por pequeno que seja, entre o falante e o interlocutor, entre o autor e o leitor. Assim, por exemplo, dois amantes que se falam na interação amorosa geram de parte a parte uma energia ou força mental, psíquica, emotiva ou sentimental. Negar isso é querer tampar o sol com uma peneira para provar que o sol não existe.
 

e)     Seguimos também as diretrizes metodológicas e procedimentos de Thomas Kuhn na questão paradigmática, [8] bem como a perspectiva científica da Teoria da Relatividade de Albert Einstein;     

f)      Por isso, parece-lhe à Linguística Dinâmica e Integrativa, por exemplo, que a descrição do fenômeno da ASSIMETRIA da Pragmática Dicotômica é parcial, unilateral e reducionista; de tal maneira que não existiria nenhuma ASSIMETRIA na interação entre os falantes e interlocutores, e sim uma SIMETRIA relativa entre iguais ou semelhantes, se não existisse uma diferencial entre as energias e forças linguísticas de ambos; como por exemplo, entre o presidente de uma nação e os cidadãos normais e correntes, entre o dono e diretor de uma empresa e os trabalhadores da mesma, entre o professor e os estudantes, entre o general e os soldados, entre o pai e o filho, etc. Enquanto que as relações entre os amigos, pares e iguais, são simétricas, que é a situação real e objetiva em que fundamentaram as suas observações e análises linguísticas a Gramática Tradicional e o Estruturalismo Formalista.[9] A descrição da assimetria por parte da Pragmática Dicotômica é uma meia verdade, que omite e oculta a outra meia verdade e se transforma em um sofisma, em uma retórica meronímica no plano da suposta “Linguística Geral”, que toma «uma parte do objeto» pelo «objeto inteiro», pelo «conjunto dos elementos que o compõem», de tal maneira que a Pragmática Dicotômica reduz «o todo do objeto» a «uma parte do mesmo», e denomina  «o todo» com o «nome da parte».
g)     Como vamos perceber pelos dados, são inúmeras as omissões e esquecimentos que cometeram as teorias linguísticas modernistas herdadas do século XX, como se representa nos Gráficos 3.1; 3.2; 3.3; 3.4; 4.1; 4.2; 4.3; 4.4; 5.1; 5.2; 5.3.              


[1]  Bakhtin foi um dos autores que formulou na sua obra Marxismo e Filosofia da Linguagem (1992:69-89) críticas à concepção do positivismo linguístico do século XX.    
[2]  DÍAZ, Esther. “Los Discursos y los Métodos: Métodos de inovación y métodos de validación”, em Revista “Pespectivas Metodológicas”, ano 2, nº 2, pp. 2-22. Publicación del Departamento de Humanidades y Artes de la Universidad Nacional de Lanús; página Web, Site: http://www.estherdiaz.com.ar/textos/metodo.htm    ;  DESCARTES, R. Discurso del Método. Trad. Argentina, Buenos Aires: Espasa-Calpe, 1943; tradução portuguesa  (1982) Discurso do Método, Lisboa, Sá da Costa, pag. 28 ss.
[3]   A Nova Filosofia da Ciência foi constituída pela Comunidade Científica a partir de 1905, a partir das publicações de EINSTEIN (1905 e 1916), em conexão com as Regras do Discurso do Método de DESCARTES (1982: pp. 28 ss), a visão do Novo Espírito Científico de BACHELARD, G. (1934, 1996; 1978) e a visão paradigmática de KUHN (1962, 1996). Gerou uma grande mudança nos paradigmas científicos. Apud YAMAZAKI, Sérgio Choiti e YAMAZAKI, Regiani Magalhães de Oliveira (2009). “Gaston Bachelard e a Noção de Espírito Científico”. EmRevista P@rtes (São Paulo). Julho de 2009. ISSN 1678-8419, em <http://www.partes.com.br/educacao/olharbachelardiano.asp>, e apud: www.partes.com.br/educacao/bachelard.asp
[4]  Saussure define a “linearidade” do significante, na sua obra póstuma (1916): Versão Túllio de Mauro: p. 103; versão brasileira: p 84, nos seguintes termos: “O significante, sendo de natureza auditiva, desenvolve-se no tempo, unicamente, e tem as características que toma do tempo: a) representa uma extensão, e b) essa extensão é mensurável numa só dimensão: é uma linha (grifos do autor)”.   
[5]  A crítica da linearidade do significante da concepção saussuriana é realizada por MEDINA (1998) Análise Crítica da Noção de Língua em Ferdinand de Saussure, Letras Digitais, Teses e Dissertações Linguística, PPGL UFPE: pp. 142-146.
[6]  MEDINA, A. T. & MEDINA G. R. (2009)  Os Poderes da Língua no Âmbito Jurídico: Princípios de Lingüística Jurídica. ISBN n° 978-85-60323-23-4, Recife: Néctar: pág. 68-87.
[7]  DESCARTES, R. Discurso del Método. Buenos Aires: Espasa-Calpe, 1943; DÍAZ, Esther. “Los Discursos y los Métodos: Métodos de innovación y métodos de validación”, em Revista “Pespectivas Metodológicas”, ano 2, nº 2, pp. 2-22. Publicación del Departamento de Humanidades y Artes de la Universidad Nacional de Lanús. Site: http://www.estherdiaz.com.ar/textos/metodo.htm 
[8]   KUHN, Thomas (1962, 1966) The Structure of Scientific Revolutions, The University of Chicago Press, Chicago: Kuhn 1996: p. 23-42;  Kuhn 1970: p. 246. “La teoría kuhniana del cambio científico ocupa un sitio estratégico en la transformación que sufrió la filosofía de la ciencia a partir de los años sesenta”.
[9]  DESCARTES, R. Discurso del Método. Buenos Aires: Espasa-Calpe, 1943; DÍAZ, Esther. “Los Discursos y los Métodos: Métodos de inovación y métodos de validación”, em Revista “Pespectivas Metodológicas”, ano 2, nº 2, pp. 2-22. Publicación del Departamento de Humanidades y Artes de la Universidad Nacional de Lanús; e na página Web, no Site: http://www.estherdiaz.com.ar/textos/metodo.htm.


[1] Os Fundamentos e Procedimentos da Experimentação Linguística foram inicialmente descritos e explicados no ensaio MEDINA, A.T. (2003) La «Enérgeia» humboldtiana en una perspectiva pragmática, Ensaio pelo Doutorado em Linguística, Barcelona: Universidade de Barcelona, p. 2-138; 140-286 Nessa obra descrevem-se os procedimentos da Experimentação Linguística. Também na obra MEDINA, A.T. & MEDINA, G.R.P.T.M. (2009) Os Poderes da Língua no âmbito Jurídico: Princípios de Linguística Jurídica. ISBN n° 978-85-60323-23-4, Recife: Néctar, p. 110; 114; 96-130. Esses fundamentos foram constituídos levando em conta a concepção científica de  DESCARTES, R. Discurso del Método. Buenos Aires: Espasa-Calpe, 1943; e de DÍAZ, Esther. “Los Discursos y los Métodos: Métodos de innovación y métodos de validación”, em Revista “Pespectivas Metodológicas”, ano 2, nº 2, pp. 2-22. Publicación del Departamento de Humanidades y Artes de la Universidad Nacional de Lanús. Site: http://www.estherdiaz.com.ar/textos/metodo.htm 

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